Google+ Canal Brasília: Crônica: Pra que serve a bússola?

11 de fevereiro de 2012

Crônica: Pra que serve a bússola?

Por Fabrício Fernandes

Foto da internet
Se alguém me disser que estou morrendo, digo: não preciso de bússola. Não para me indicar que estou morrendo. E se as janelas gradeadas estão abertas, desço pra rua e caio na vida. Sambo até de manhã, por horas a fio. Sacolejo com a mão na cintura até o sol raiar. No meu carnaval não há passistas nem passantes. Troco de máscaras até a quarta-feira de Cinzas. E daí? 

Agora o cheiro de cigarro se enfronha por entre os dedos. É fumaça de cigarro e sangue petrificado no nariz se misturando. Mas o ar não é mais seco. É úmido. Cola na pele porque faz calor. Porque vivo perto do mar. Porque entro no mar e quando penso em desaparecer lembro que pouco ou quase nada tenho vivido. Nas madrugadas embriago-me. Meu êxtase gozoso é a errância. O corpo quente, suado. Os pés latejando. E eu andando gatuno, sorrateiro, com pressa. Tenho pressa, sim. E muita. 

Ando a beira-mar vendo o porto ao fundo. O navio vai embora. O mar de canal desliza veloz. Tenho pressa de acordar. Pressa de estar vivo antes que morram os caminhos. Lanço-me nas caminhadas sem destino. Vejo jardins escuros, passeios vazios. A boca está muda, os dentes amarelos rangem. Começo a cutucar a vontade de por fim a algo. Fim ao destino. Ao nada. Ao vazio do nada. Enquanto não subo nas embarcações que têm pressa e parto de vez, escuto Dona Ruth lavar as escadas do prédio. Sigo a diante. Carrego comigo esse 'Eu' sem lastros. Acumulo água no céu da boca. Água que escorre pelos dentes, os olhos sem caber dentro da cabeça. E vou contando historinhas.

Entrei no mar com meu primo e caí de boca nele. A boca submersa engolindo quase tudo. Engolindo água salgada de mar; passivamente um peixe vivo entalado na garganta. Um robalo preto, os olhos vergados pra fora. Acho que enquanto estava submerso debaixo d´água começava a mandar pra dentro é um ódio da porra! Mas não odiava o meu primo. Estávamos os dois bem doidos por sacanagem. Acho que agora os ouvidos estão surdos. Então vou arrastar as asas para o mundo. Talvez vagar no sonho até quando quiser acordar. Depois, desaparecer de novo numa onda de pensamentos e perder tudo de vista...

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