Por Douglas de Almeida
Depois daquele tempo houve outro tempo então e dessa vez vi coisas que não queria ter visto e vivi aquilo que ninguém jamais gostaria de viver. Eu acordei em meio a uma noite escura e fria, vi crianças dormindo embaixo de pontes e nas ruas, era triste e tenebroso. Eu vi outras crianças em outros lugares jogadas como coisas endurecidas e abandonadas secando até a morte. Desta vez eram crianças que não bebiam leite e nem comiam pão. Eram crianças da guerra, crianças de sangue e de dores. A vida lhes deu a morte de presente e ali estavam elas morrendo de viver. A noite não tinha fim ou fundamento e então fechei os olhos e adormeci lentamente, cansado e esperançoso sonhei com outras crianças com cabeças raspadas, infectadas e espetadas repletas de choro e de sofrimento por causa das doenças que carregavam. Eu ouvi crianças dando seus últimos suspiros de vida e sucumbiam no colo da morte com honra injustamente. Acordei bem cedo, abri as janelas de casa e olhei para o mundo lá fora. Não havia nada de mais, apenas o governo promovendo o nada e o nada promovendo o vazio nas almas das pessoas. De tarde eu vi pessoas velhas morrendo sozinhas nos leitos dos hospitais e nos asilos. Pessoas velhas que tanto já fizeram... Pessoas que fazem, mas fazem o quê? Eu não sei e nunca soube. Eu vi aquilo que não queria ter visto e não quis ver o que deveria ter sido visto.
Foto da internet |
Os sonhos são realidades irreais e previsões do que está oculto e virá à tona quando de fato acontecer. A verdade é única e não se ensoberbece, ela apenas traz o que ninguém quer e que tanto incomoda. Eu, que durante a vida, tive sonhos tão reais que os senti na pele e os vivi na carne. Vi e vivi tantas coisas que nada pode ser uma surpresa ou desfazer a diferença que um dia já fizeram tais coisas.
Em algum tempo turvo eu sonhava com línguas que não podiam ser faladas. Palavras inéditas, hábitos, sensações estranhas e indescritíveis eram impostas pelo conhecimento presente no olhar frio, sábio e sedutor da sabedoria. Eu falava em uma linguagem absurdamente clara que não tinha sons nem sinais. Era um paradoxo elevado a um nível tão supremo que emitia luz própria e não era vista nem ouvida, era penetrantemente absorvida. Assim era naquele dia, nada houve se não aquilo que deveria ter exatamente sucedido.
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Depois daquele tempo houve outro tempo então e dessa vez vi coisas que não queria ter visto e vivi aquilo que ninguém jamais gostaria de viver. Eu acordei em meio a uma noite escura e fria, vi crianças dormindo embaixo de pontes e nas ruas, era triste e tenebroso. Eu vi outras crianças em outros lugares jogadas como coisas endurecidas e abandonadas secando até a morte. Desta vez eram crianças que não bebiam leite e nem comiam pão. Eram crianças da guerra, crianças de sangue e de dores. A vida lhes deu a morte de presente e ali estavam elas morrendo de viver. A noite não tinha fim ou fundamento e então fechei os olhos e adormeci lentamente, cansado e esperançoso sonhei com outras crianças com cabeças raspadas, infectadas e espetadas repletas de choro e de sofrimento por causa das doenças que carregavam. Eu ouvi crianças dando seus últimos suspiros de vida e sucumbiam no colo da morte com honra injustamente. Acordei bem cedo, abri as janelas de casa e olhei para o mundo lá fora. Não havia nada de mais, apenas o governo promovendo o nada e o nada promovendo o vazio nas almas das pessoas. De tarde eu vi pessoas velhas morrendo sozinhas nos leitos dos hospitais e nos asilos. Pessoas velhas que tanto já fizeram... Pessoas que fazem, mas fazem o quê? Eu não sei e nunca soube. Eu vi aquilo que não queria ter visto e não quis ver o que deveria ter sido visto.
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