Crônica: Imagens secas

Por Fabrício Fernandes

Brasília, dia fumacento... 

Tudo começou quando pisei naquela terra árida. A garganta secou, saliva viscosa grudou no céu da boca. Escorreu pelos dentes. Acumulou-se onde não havia esperança nem vontades. Areia seca grudada e empastelada dentro da garganta. E a luz do sol talvez me esquentasse um pouco, me acalentasse. Enquanto me via ali sem face, pensamentos se iluminavam pele incidência volumosa e quente de luz amarela. Era uma luz intensa, descendo volumosa, quase a cegar. Estava zonzo, como que rodopiando sozinho no ar, em meio à ventania da tarde ensolarada. 

Não suporto saber dessa escassez de água para se afundar e esquecer. Esquecer o tempo todo me acorrentando ali dentro onde estava de olhos fechados a imaginar tudo. Sentaria agora na areia branca e ficaria apenas a contemplar o infinito. Mas estou longe mar. E tudo o que vejo agora, de olhos entrefechados são imagens – olhares que se perdem diante da amplitude. O mar: essa beleza infinita da linha azulada no horizonte, e toda a dimensão do oceano aberto como que tomando conta de nós, de mim. 

Agora, os olhos estão cansados desse azul que o céu igual em toda parte. Já estava há dias sentado ali onde havia apenas espaços vazios. Não passava ninguém. Minha capacidade de ver alguma coisa parecia ter entrado em súbito colapso. Corpo exaurido de tanto sol, eu vivendo de um jeito arenoso. Não acontecia nada, uma cegueira noturna. Escutei ecoar uma voz impositiva, frase repetindo por dias e dias na cabeça – criança ensimesmada, não se move do lugar. Fumegamento: vários dedos tentando afundar os olhos. Então se afundasse os olhos levando-os para dentro da massa cerebral eu teria assim apenas olhos cegos e cerebrais? 

Reescrevi ao som de Bruno Morais, Bichinho do sono. 

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