Google+ Canal Brasília: Crônica: O Escort azul

10 de março de 2012

Crônica: O Escort azul

Por Douglas de Almeida

Foto da internet.
Hoje é domingo. Sempre pensei que os domingos foram feitos para que possamos nos concentrar e cuidar de coisas pessoais como estudar, passear no parque ou ir ao clube. Porém, não tem sido assim. Fico, na verdade, pensando em como preencher mais uma página em branco e não chego a nenhuma conclusão a não ser utilizar da sinceridade e do lógico. Nada mais obstante procuro me concentrar e fazer com que as páginas brancas se tornem estradas intensas que levam a lugar algum a não ser a onde eu exatamente queira, e para isso, preciso percorrer cada quilômetro em meu Escort azul.

Posso ficar parado durante horas, mas por dentro estarei inquieto, pois sempre que penso que as coisas poderiam ter sido de outro jeito adoeço e não retorno mais ao planeta terra. Fujo completamente da realidade e nada passa a fazer sentido. Eu me pergunto o que seria natural e a resposta não vem. Tantas imagens vêm à frente de meu olhar como ícones de lembranças enclausuradas na memória e eu fico imóvel, por fora. Apenas por fora. Sempre observo os fatos e penso que as pessoas e as coisas poderiam ser perfeitamente de outra forma, talvez melhor, mas não são. Até aqui a vida conspirou diferentemente com os planos sonhados. Então eu entro em meu Escort azul, ligo o som bem alto, dou a partida e saio mundo afora. Uma fuga, um escapismo, um episódio intenso vivido a cada instante e um palco cênico percorrendo inconscientemente a longa estrada da vida. Não paro, não volto atrás e não descanso, só corro, corro e corro a mais de cem por hora.

Paredes não me prendem e o céu não é limite para mim. Ao menos não deveria ser se não fosse pelo que é. As páginas em branco são sempre preenchidas com palavras muito pensadas e cuidadosamente escolhidas sobre aquilo que está acontecendo. Não pelo aconteceu ou o que acontecerá, mas pelo presente. Muitos são os meios de aprendizado e poucas são as maneiras exatamente concretas para discerni-los. O discernimento faz o ser humano ser exatamente humano e nada mais. Visão por visão como adiar o sono sempre olhar de frente ao inesperado, ao passível e vulnerável. A vida é vulnerável e tudo o que acontece são letras preenchendo as páginas em branco originadas pelo dia inteiro que se passa imperceptível. O efeito da ocasião é o momento. Ter medo a essa altura já não adianta mais nada. A noite é o momento mais criativo e produtivo da vida. É durante a noite que as coisas importantes acontecem e são registradas na memória. A noite é a vergonha dissimulada do não acontecido e a injustiça imprópria ao viajante sem destino do Escort azul que não sabe para onde vai, mas sabe apenas que vai para algum lugar.

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