Google+ Canal Brasília: Crônica: Eles dois

13 de janeiro de 2012

Crônica: Eles dois

Por Fabrício Fernandes

Estou só aqui ao lado dela. Sem muito assunto. Esforço-me para buscar na memória algum dado recente, mas não encontro nada digno de ser trazido para o diálogo. Li alguns trechos de um livro mas não importa qual livro. Sei... a minha melancolia complica tudo. Mas eu não queria me sentir assim, afinal estava com ela. O dia passa rápido demais, não tenho tanto tempo assim, logo vem segunda-feira. Mas, se sinto pressa, me criticam. Daí o telefone tocou. Era meu amigo que precisava desabafar e pedia a minha companhia por alguns minutos. Vem! Vou esperá-lo, disse-lhe. Levou alguns minutos e ele chegou. Pediu conselhos amorosos, rolaram lágrimas de desespero, queixumes histéricos, e o achei engraçado. O que meu amigo revelou foi que, mesmo sabendo que sua separação ocorrera após o aparecimento de um terceiro, ele insistiu para continuar tendo a presença da sua namorada, não exigia a exclusividade do seu amor. Meu amigo disse estar ciente de que agira destituído de todo seu orgulho, mas não imaginava perdê-la. “Não vou suportar. Não saberei viver sem estar junto dela”, disse-me. Depois ele foi embora. Apaguei a luz da sala e fui deitar-me ao lado dela. Fizemos amor. Um amor calmo, tranqüilo, ela feliz gozando. De manhã, no dia seguinte, no intervalo entre o preparo do macarrão e do frango para o almoço, ela foi à varanda observar as nuvens que pareciam colorir o céu de tanto branco. Ela me disse: “amor, o celular não toca, incrível"! Eu a vi preencher o tempo observando a nuvens. Aí começou a respingar uma leve chuva e ela entrou para terminar de preparar o almoço. Abri uma garrafa de vinho. Ela recusou a bebida. Senti o sossego da alma, mas a passividade do corpo me cobrava cobri-la de beijos o tempo todo. Ela não podia ficar sem sentir meu calor. Ao pensar na presença inesgotável que teria que dar a ela, senti um certo esvaziamento na cabeça, e isso fez com que eu adormecesse no sofá. Escutei ela mexendo a colher de pau na cozinha. Senti ânimo e felicidade. Gostava da simplicidade dos movimentos dela quando estava distante de mim. Mas quando ela chegava perto era como se atrapalhasse algo, enfim... Acendi um cigarro; senti-me tão démodé. Ela ria dos fios brancos do meu cabelo e da barba que eu ainda não conhecia. Vi que ela se assustava com a sua escolha, a de está ali comigo, mas como dizer: olha eu estou para você, e você pode estar para mim. O dia passa rápido demais. E enquanto ela cozinhava o telefone tocou. Era um amigo que pedia para vir a nossa casa para falar de um assunto particular. Não suporto ter que dar prosseguimento a isso, pensei. Adormecimento. Ela prosseguiu pondo um livro na mesinha ao lado da cama, para me dizer que estava esperando que eu a tocasse. Levantei e de lado, olhei para ela que estava deitada no sofá da sala. Fui à varanda e acendi um cigarro. Estou só aqui ao lado dela. 

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