Google+ Canal Brasília: Crônica: Janela

23 de dezembro de 2011

Crônica: Janela

Por Fabrício Fernandes
Se aproxime da janela e tema encontrar... Não, não tema. Janela é lugar pra se ficar de dentro. Janelas de dentro que se abrem pra fora. Ontem à noite aproximei-me da janela de casa, agora moro no alto do morro, no centro de Vitória, e olhei para o alto. Um baita susto. A lua por entre nuvens grossas e escuras. E eu na janela da minha escuridão. Esse escuro que há dentro da gente. Algo que quer atravessar janelas entrefechadas. Em mim, concluí: tenho ambas as coisas – janelas entrefechadas e escuros. Mas o desafio está no trabalho diário. Por isso me aproximei da janela e conduzi palavras… A mudez de quando parei ontem na janela não era tão importante. Mantive-me apenas calado. Talvez contemplativo para a Lua soturna. E se me calei pra não deixar falar o desejo, deitei as mãos sobre o parapeito da janela para olhar lá fora. Aí se revelou a mim uma sensação de frescor trazida pelo vento. Eu estava só e podia não estar só mas estava. O frio me acalentou. Aí lembrei de uma cena engraçada quando estava ali na janela: uma barata apareceu atrás de mim, asch! Parti pra cima dela, mas lembrei que eu tinha apenas os sapatos comprados naquela semana. Só um par de sapatos em casa. Os chinelos eu havia esquecido na casa do homem. A vassoura? Ih!... da última vez que fui ao supermercado, desisti de comprá-la para não ter que carregá-la pelas ruas a pé. Bem... saí de casa: abandonei a barata lá, vivinha lá da silva. Fui tomar café na esquina, mas na cidade não há esquinas?! Fui ao café e pronto. Voltando ao começo. Aproximei-me de novo da janela e nada ocorreu. A Lua, a barata, nada. A vontade não veio. Refiz os movimentos. E ocorreu assim: cruzei com o silêncio na escada e subi mais um degrau. Ontem também senti ao acordar quase às três da tarde que eu havia me roubado o dia, embora não sinta obrigação de ter que acordar cedo pra fazer coisas. Algumas delas aparentemente sem sentido. É triste viver na desesperança da falta de sentido? Talvez. Eu não consegui, não consegui: meu escuro. Então acordei naquele horário e me senti perdido, fiquei andando como um tonto dentro de casa e tive um súbito medo de morrer. O escuro emitindo seus sinais. Quero tanto viver. Então fui abrir as janelas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos seu comentário. Volte sempre que desejar.